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Cartas de amor, parte 1 - por Lud

Texto por Lud

20 de julho de 2024

Os noivos, Gabi e Dani, nos deram a missão de discursar nesta celebração. Para mim, uma jornalista, imagina-se que seria algo simples, não fosse a dificuldade de dividir as palavras com um mestre, literalmente, das letras e o tema do texto: o amor, objeto de tantos escritos e ainda mais este, que transformou a vida de uma grande amiga.

Aviso de antemão que não ousarei defini-lo, mas me proponho a compartilhar uma de suas contradições que faz com que esse sentimento seja o que é e tenha nos trazido aqui hoje. O primeiro componente desse dueto é o acaso: um evento imprevisível, incerto. Em seu inerente mistério colocou nossos queridos noivos frente a frente em meio a tantos rostos. "Amor é sorte" cantou Rita Lee, e não sou eu quem vai discordar.

Mas seu oponente complementar é, para mim, o que faz do amor o que ele é: a escolha. Esta que ambos têm tomado dia após dia, em meio às unidades de suas próprias vidas, fazendo com que retornarem sempre um ao outro.

Sem o acaso, essa aleatoriedade que nos coloca inadvertidamente em tantas vidas, como explicar esse encontro? Mas somente a escolha — sem o enigma que nos leva a cogitá-la — não seria apenas um acordo?

Em seu livro "A máquina de fazer espanhóis", Valter Hugo Mãe —autor que me foi apresentado pela noiva — diz, por meio de seu personagem principal, que sua amada era com quem “compartilhava sua vida, crescendo como indivíduo” e em quem encontrava “a definição de todas as incompletudes de seu ser e as colmatava”.

Não tenho a intenção de pressioná-los ao ler essa passagem com a responsabilidade de dar conta de todas as faltas que reconhecerem em si próprios ou um no outro. Pessoalmente, nem acho que isso seja possível. Mas comemoramos nesta noite o desejo materializado em ação de serem agora ainda mais companhia, compreensão e afeto mútuos ao encontrá-las.

Casar-se representa, sim, um compromisso formal de união. Mas é também o registro de uma pequena sequência de milagres: o do encontro seguido do reconhecimento dessa parceria e a fé de que ela poderá ser transformada quantas vezes forem necessárias ao longo dessa história, que é — com o prazer que tenho de testemunhá-la — de amor.