Cartas de amor, parte 2 - por Dudu
Texto por Dudu
20 de julho de 2024
Algumas das memórias mais divertidas que tenho da Gabi vêm de dentro de museus, que parece ser o habitat dela. Em todo lugar que ela passa, faz um cartãozinho de fidelidade para se tornar amiga do MASP, do Stedelijk, do Rijks Museum e sabe-se lá de qual outro.
Eu não entendo grande coisa de casamento, mas entendo alguma coisa de museus e sei que, muitas vezes, chegam ali peças tremendamente antigas, quebradas e corroídas: uma estátua sem braços, um fragmento de vaso, um manuscrito em frangalhos. Com esse tipo de objeto, ao contrário do que poderíamos pensar, a prática comum hoje em dia não é restaurá-lo, mas conservá-lo para que não se deteriore mais. Muitos museus, por exemplo, preferem apresentar um busto sem nariz do que grudar ali um nariz feito sob medida: eles apenas garantem que, além do nariz, o busto não perca também uma orelha.
Mas eu tenho para mim que um casamento só funciona da maneira inversa. Imagino que, na relação entre duas pessoas, se há uma lacuna, ela deve ser preenchida; se há uma rachadura, ela precisa ser reparada; e se há um nariz faltando, um nariz substituto precisa ser providenciado. Vendo o Dani e a Gabi juntos, posso perceber que eles felizmente já sabem disso tudo, e que quaisquer lacunas e rachaduras são logo preenchidas e reparadas. A franqueza da Gabi, combinada à sua grande capacidade de ouvir o outro, assim como a paciência e complacência do Dani me indicam que os dois têm pela frente uma trajetória bastante longa de amor e de companheirismo. E sei que o tão esperado bebezinho Tomás vai assegurar doses extras de amor e de união, e realçar o que cada um tem de melhor. Falo por todos quando digo que sou privilegiado por poder testemunhar essa vida chegando.
Penso na passagem indiferente e constante do Tempo, que corrói estátuas, arruína monumentos e destrói civilizações inteiras, mas que também constrói amizades, forma famílias e gera vidas novinhas. E, quando olho à minha volta e vejo rostos que me acompanham há tantos, tantos anos, só consigo concluir que podemos ter esperança nas coisas que foram feitas para durar, quando damos a elas carinho e cuidado: nossas amizades, os laços familiares e, é claro, os casamentos como o da Gabi e do Dani. E, bem lá na frente, quando olharmos para a longuíssima tapeçaria da Memória, perceberemos que todos os fios mais bonitos e mais duradouros foram tecidos pelas hábeis mãos do Amor, que resiste à voracidade do Tempo e faz dele mero instrumento para alcançar seus nobres fins.