Talvez você deva conversar com alguém
Esse é o título do best-seller de Lori Gottlieb que conta sobre seu processo de análise, a relação com seu analista, e sua experiência analisando pacientes. Sendo sucinta, não amei o livro, e acredito que o principal motivo para isso foi não ter simpatizado com a autora; ou apenas não sentir super admiração, curiosidade ou interesse por ela.
Muito da narrativa, ou pelo menos grande parte do começo, são justificativas sobre a escolha tardia da psicologia, ao mesmo tempo em que se gaba sobre suas habilidades e inteligência. A minha impressão é que ela está escrevendo enquanto faz uma entrevista de emprego, e apesar de tentar compensar mostrando também suas vulnerabilidades e momentos difíceis que enfrentou, o faz de uma forma MUITO ENTREVISTA DE EMPREGO mesmo.
(Dito isso, acho que essa percepção e opinião é muito particular, talvez enviesada pelas minhas próprias experiências e traumas. Talvez ela seja apenas ADULTA, madura e tenha uma ótima relação com o pai, e isso me incomoda de alguma forma. -E sim, talvez isso diga mais sobre mim do que sobre ela.)
Ainda assim, não invalido a importância dessa leitura, mesmo que penosa e chatinha -não por acaso, demorei uns bons 2 meses pra terminar- através da qual aprendi sobre teorias e conceitos da psicologia e sobre comportamento humano.
Enfim,
falei mal
falei mal
mas gostei. Então deixo aqui 20 aprendizados compilados (pílulas de conhecimento da psicologia & psicanálise) que obtive durante essas 443 páginas:
1. Diferença entre compaixão idiota e compaixão sábia: "Na compaixão idiota, você evita balançar o barco para poupar os sentimentos das pessoas, ainda que o barco precise ser balançado, e sua compaixão acabe sendo mais nociva do que sua honestidade. As pessoas fazem isso com adolescentes, cônjuges, viciados, até consigo mesmas. Seu oposto é a compaixão sábia, que significa importar-se com a pessoa, mas também lançar-lhe uma amorosa bomba de verdade, quando necessário."
2. O mito da neutralidade do terapeuta: "Em vez de sermos neutros, nós, terapeutas, esforçamo-nos para notar nossas sensações não neutras, tendências e opiniões, de modo a podermos nos afastar e decidir o que fazer com eles. Usamos nossos sentimentos, em vez de suprimi-los, como ajuda para orientar o tratamento."
3. Acalmando os nervos: "Os neurocientistas descobriram que os seres humanos têm células cerebrais chamadas neurônios-espelhos, que os levam a imitar os outros, e quando as pessoas estão em um estado emocional exacerbado, uma voz relaxante pode acalmar seu sistema nervoso e ajudá-las a se manter presentes."
4. Entorpecimento x apatia: "As pessoas frequentemente confundem entorpecimento com apatia, mas esse torpor -de se paralisar diante determinada situação- não é a ausência de sentimentos, e sim uma reação a um excesso de emoções."
5. O futuro no presente:"Tendemos a pensar que o futuro acontece mais tarde, mas ele está sendo criado em nossa mente todos os dias. Quando o presente desmorona, o mesmo acontece com o futuro que associamos a ele. E ter o futuro subtraído é a mãe de todas as reviravoltas em uma trama."
6. Insights sobre parentalidade: "Sempre que ouço falarem em pais santos, desconfio. Não que esteja procurando problemas; só que não existe pai ou mãe santos. A maioria acaba sendo os pais "bons o suficiente", que Donald Winnicott, o influente pediatra inglês e psiquiatra infantil, acreditava bastar para uma criança bem ajustada." E ainda em outro contexto: "Goethe sintetizou esse sentimento: Um número enorme de pais e mães dificultam a vida para os filhos tentando, com um excesso de cuidado, facilitá-las para eles."; e "As regras fundamentais para uma boa parentalidade são simples: moderação, empatia e adequação de temperamento com o filho."
7. Nossos medos, alguns inconscientes: "Temos medo de nos machucarmos, de sermos humilhados, do fracasso e do sucesso. Medo de ficar sozinhos, e de estabelecer ligação. Medo de escutar o que nossos corações dizem, de ser infelizes e de ser felizes demais. Medo de não ter a aprovação de nossos pais, e de nos aceitar como realmente somos; medo de uma saúde ruim, e de uma boa sorte. Medo de nossa inveja e de possuir em excesso; medo de ter esperança em relação a coisas que podemos não conseguir. Temos medo de mudança, e de não mudar, medo de que algo aconteça a nossos filhos, a nosso trabalho. Medo de não ter controle, e de nosso próprio poder. Temos medo da brevidade da nossa vida, e da duração da nossa morte. Medo de ser responsáveis por nossas próprias vidas."
8. É uma fórmula: Felicidade = Realidade – Expectativa
9. Se libertar: "A terapia tem a ver com entender o indivíduo que você é. Mas parte de entender a si mesmo é desconhecer a si mesmo, abrir mão das histórias limitantes que você vem se contando sobre quem você é, de modo a não ficar aprisionado por elas, podendo viver a sua vida."
10. Insight x mudança: "O insight é o prêmio de consolação da terapia, significa que você pode ter toda a percepção do mundo, mas se não mudar quando estiver à solta lá fora, o insight – e a terapia – são inúteis." "O insight permite que você se pergunte: Isso é algo que estão fazendo comigo, ou eu estou causando a mim mesma?"
11. Ter um "tipo" e "compulsão repetitiva" de Freud: "O que a maioria das pessoas quer dizer com tipo é uma sensação de atração, um tipo de aparência física, ou um tipo de personalidade que as incita. Mas o que realça o tipo de uma pessoa, de fato, é uma sensação de familiaridade. (...) Esse sentimento do familiar dificulta distinguir o que elas querem como adultas daquilo que experenciaram quando crianças. Elas têm uma atração inquietante por pessoas que compartilham as características de um genitor que, sob algum aspecto, as magoou. (...) Não é que as pessoas queiram se machucar novamente, mas sim dominar uma situação na qual se sentiam impotentes quando crianças. Freud chamou isso de compulsão repetitiva".
12. "Toda decisão feita é baseada em duas coisas: medo e amor. A terapia luta para ensinar como diferenciar um do outro."
13. Uso do tempo: "O homem moderno acha que perde alguma coisa -tempo- quando não faz as coisas rapidamente; no entanto, não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser desperdiçá-lo", provou o psicanalista Erich Fromn há mais de cinquenta anos;
14. Virou clichê, mas é verdade! Do psiquiatra Viktor Frankl: "Existe um intervalo entre o estímulo e a resposta. Nesse intervalo está nosso poder de escolha para a nossa resposta. Em nossa resposta está nosso crescimento e nossa liberdade."
15. "Compartilhar verdades difíceis traz um custo, a necessidade de encará-las, mas também há uma recompensa: a liberdade. A verdade nos liberta da vergonha."
16. O termo "querofobia" representa o medo irracional da alegria. "É comum que as pessoas com histórias traumáticas esperem desastres a qualquer instante. Em vez de se apoiar no que vier de bom, tornam-se super vigilantes, sempre esperando que alguma coisa dê errado." (...) "Para algumas pessoas, a alegria não é um prazer; é uma dor antecipada."
17. "É possível se ter compaixão sem perdoar. Existem muitas maneiras de seguir em frente, e fingir que se sente de determinada maneira não é uma delas."
18. "As sessões a que os pacientes comparecem sem estar numa crise, nem ter uma pauta, tendem a ser as mais reveladoras."
19. Mecanismos de defesa primitivos, maduros, e neuróticos: "No grupo de mecanismos de defesa maduros está a sublimação, que é quando uma pessoa transforma um impulso potencialmente danoso em algo menos prejudicial (como um homem com impulsos agressivos aderir ao boxe), ou mesmo construtivo (uma pessoa com impulso de cortar pessoas se transformar num cirurgião e salvar vidas). (...) Já a defesa neurótica acontece for meio da "transferência", quando por exemplo uma pessoa que ouviu gritos do chefe, chega em casa e grita com seu cachorro."
20. Terapia e GOALS: Aprender a viver com o que se é, e com o que se tem. E acima disso, se sentir confortável consigo mesmo. Deixar para trás uma mentalidade restritiva e mais que isso, parar de ser tão restritiva.
E depois de escrever tudo isso, percebi que parece mais um fichamento (rs), sorry!