Tontom nasceu
Meu filho nasceu dia 27 de setembro por cesárea de emergência.
Eu, que confesso, havia passado meses idealizando um parto vaginal com equipe humanizada me vi tendo que processar em segundos a realidade de estar subindo para a sala de cirurgia. Nunca estive tão tensa, em parte por não ter estudado nada sobre a cesárea, mas sobretudo angustiada por não saber o que acontecia com o meu filho dentro da minha barriga.
Ver minha médica me trouxe conforto, ela foi carinhosa, perguntou se tínhamos feito alguma playlist pro parto. SIMMM, era a resposta de quem nem sabia que podia ter música durante a cirurgia. Naquele nono mês de gestação eu havia criado uma trilha sonora para momentos em que as contrações apertassem ou para intervalos em que precisasse relaxar durante o trabalho de parto, tomar fôlego.
Já na sala de cesáreas, colocamos a playlist pra tocar, no teto acenderam estrelinhas, e depois de alguns minutos eu vi meu filho pela primeira vez. Ele chorava e eu me assegurava com a equipe que ele estava bem. Fazíamos a nossa golden hour e ele buscava meu peito que nem um passarinho, ao som de Bon Iver.
Impossível não associar essas músicas todas ao nascimento dele, que chegou de forma tumultuada porque, como só descobrimos depois do parto, tinha um "nó verdadeiro" justo no cordão.
Lembro desse momento ainda hoje -e acredito que pra sempre- com emoção indescritível. Todo susto, adrenalina, e de repente a vontade incontrolável de proteger aquele pequeno ser de qualquer dor do mundo externo que ele acabava de descobrir. Assimilei tudo o que passou como um grande milagre, fracionado em atos durante o último mês da gestação, e tenho certeza que no fim o parto foi exatamente como tinha que ser.
Segue a trilha sonora, por mim e por meu amor Dani que esteve ao nosso lado o tempo todo.
ps: Semana passada ouvi o episódio do podcast de Vera Iaconelli (O Estranho Familiar) com Andrea del Fuego, onde o assunto passou pela temática do parto. Elas discutem sobre como tudo pode mudar no intraparto, mesmo para quem teve gestação tranquila; Que não se controla o nascimento, e portanto é importante saber que você vai despreparada para o parto não importa o quanto tenha se preparado. Talvez antes de 27 de setembro torceria o nariz para essa fala, hoje depois de ter passado por um dos maiores sustos da minha vida, não poderia concordar mais.
E essa semana conheci através de @Jules a história de @Anna que após parto traumático criou um ritual com banheira e Beatles para ressignificar a experiência do nascimento de seu filho.
E juntando as duas coisas, tem uma frase de Vera nesse episódio que achei que descreve o ritual de Anna e a forma que encontrou para buscar sua cura: "pra além da análise, poesia. Onde a análise já não alcança mais, poesia."