More than this, Roma
Sábado à noite em Roma antes do jantar, com a cidade já escura mas movimentada e enérgica, escuto vindo de longe "More than this" de Roxy Music. Senti, instantaneamente, uma grande satisfação (como quando falo pra mim mesma, em pensamento, "ownn amo essa música" ainda tentando reconhecer o nome e artista). Pra mim transmite uma mistura inseparável de melancolia com alegria tímida, que quer fugir do peito mas não encontra espaço. Ainda assim, dançante.
Claramente a primeira associação é com a cena do karaokê de Lost In Translation, em que Bill Muray canta essa música de um jeito desafinado, devagar, e nem aí pra impressionar.
A falta de ansiedade e expectativas naquele momento é um deleite. Tão quanto a personagem de Scarlett Johansson dizendo, sem hesitar, que ainda não descobriu o que fazer da vida.
Deu vontade de assistir de novo o filme inteiro, com tantas nuances e delicadezas. Deu saudade de Tóquio, mas confesso que a música também combina muito com essa Roma que visitei em um fim semana, ou com essa fase atual da vida. Meio atemporal, desconfio.
Pra mim Sofia Coppola transmite e normaliza essa sensação um tanto coletiva, de que estamos perdidos na vida, o tempo todo carregando incertezas em relação às nossas escolhas, identidade, lugar no mundo, até não precisar mais carregar. E ainda traz a esperança de um lugar livre da necessidade de impressionar ou ser impressionado o tempo todo. Só viver junto, compartilhar experiências singelas, e celebrar e proteger os grandes encontros, exaltando a misteriosidade que só pode ser vista de dentro.