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Frankfurt, 10-12 de Novembro

Fomos para Frankfurt passar o fim de semana, um amigo foi também. O roteiro foi todo de última hora e começamos com a visita a Casa Goethe. Confesso que a falta de informações sobre a vida do escritor que morou ali me frustrou um pouco. Comemos Schnitzel e tivemos muita dó do vitelo, comemos salada de batata e um chucrute bem azedo, amo fermentados. A cerveja alemã tem uma espuma cremosa, é especial. Conversamos muito, sobre a vida, sobre o chatgpt4, sobre Angela Merkel, e descobri novos sonhos. A noite assistimos uma ópera (Martha, de Friedrich Von Flotow) com enredo e narrativa duvidosos, mas com uma execução boa. No final, duas rodadas de aplausos com dois lances de agradecimento coreografado dos atores (elenco grande) que deu um bug no nosso cérebro que pensou vivenciar um looping eterno.

Jantamos no Five Guys e seguimos conversando muito: trabalho, filhos -ter ou não ter-, nomes, presentes de aniversário, relacionamentos e futuro.

No dia seguinte fomos ao Stadel Museum, e vimos algumas obras magníficas dentro de um acervo diverso. Destaque para um Renoir ("Reading girl", lindíssimo); Henri Edmond Cross em "Afternoon in the Garden", 1905 ; e o sublime em "Storm at Sea off the Norwegian Cost" de Andreas Achenbach, 1837 (foto abaixo).

De volta à estação, tentamos adiantar o horário de nossos bilhetes de trem, infelizmente sem sucesso. Foram 5 horas de lounge e muitos pretzels, que me permitiram terminar 2 aulas de História da Arte que estavam atrasadas. Dois cappuccinos enquanto Dani roncava alto. Voltamos para Amsterdã.

O sublime em tela giga 179.0 x 272.0 cm, de Andreas Achenbach, 1837

Eu estou lendo no momento: Acabei de ler a biografia da Lina Bo Bardi que ganhei da Lud, e começando "Dias de abandono" de Elena Ferrante.

Eu estou vendo no momento: The Morning Show, e recomendo muito. E também a última temporada de Sex Education.

Uma dica de documentário: "Os catadores e eu" de Agnes Varda, que tá na lista de influências e inspirações de Greta. Belíssimo. Tenho o link do MUBI com acesso ao documentário caso você queira ver, manda uma mensagem que posso te presentear.

Torcer o nariz pra coaching - ou esteja próximo de quem te faz bem

Essa semana tive uma sessão de coaching que foi melhor que terapia. No caso, o meu coach é um ex-chefe e também amigo muito querido, lá do Japão. Eu já havia feito um curso de coaching pago pela empresa antes; e também já havia recebido coaching de uma pessoa com quem trabalho que confio muito, é extremamente habilidosa e profissional. (E sim, mesmo com um pouco de background -bastante positivo por sinal- ainda desconfio de quem se denomina "coach" e das promessas de quem "vende" a prática).

Bem, ele começou a sessão pedindo para que eu trouxesse um tema, que poderia ser um desafio, uma angústia, um problema ou uma reflexão, por exemplo. Eu disse sobre a minha falta de motivação no trabalho, que tem me afetado bastante nos últimos tempos. Acontece que estou em um período de transições (nem lá nem cá, tanto em termos de presença física/remota quanto em termos de posição/escopo) e isso tem me exigido grande força interior para ser proativa nas entregas e me gerado alguns questionamentos sobre a minha própria capacidade.

Inesperadamente, depois dessa e de outras perguntas interessantes, a sessão foi se desdobrando, calmamente, como mágica e cura. Me vi imersa em uma conversa muito sincera e sensível. Senti vontade de chorar ao perceber que ali, naquela vídeo-ligação, resgatava muitas das minhas fortalezas, como se estivesse desempoeirando um item importante e valioso que havia esquecido que existia dentro da minha própria casa. E do qual sentia falta.

Creio que ter um amigo como coach, que te conhece e que tem a vontade genuína de ajudar, é um grande diferencial. Gradualmente entendo, não sem tristeza, que em muitas situações o nosso apagamento será conveniente para a insegurança de alguns; ou gerado simplesmente por toda uma estrutura na qual estejamos inseridos. Mas principalmente que é difícil não desanimar nessas situações, de se perder.

Nesses momentos tentar se isolar ou ficar na inércia parece tentador, pelo menos pra mim, esperando uma salvação divina chegar por um cometa. Mas descobri que o antídoto perfeito é se cercar de quem te faz bem. De quem celebra a sua existência, seu valor e autenticidade. Você tem essas pessoas, e certamente serão elas que vão te ajudar a se lembrar da própria potência. Tenho tentado reconectar com muita gente que gosto e admiro, e tem sido muito especial. Ter o lugar do encontro como cura, e a cura no encontro.

Arte de @lauraberbert

"Adiantando a aposentadoria" - por Dani

Desde que me conheço por gente, o MBA em uma M7[0] é descrito para mim como uma "aposentadoria adiantada", "o gás que eu precisava para continuar me matando de trabalhar em consultoria", "um desperdício insano de dinheiro", ou "máquina de fazer dívida". Pra quem me conhece tem um tempo, sabe que eu cheguei a iniciar o processo de aplicar para essas escolas por ser um sonho antigo meu, mas ficou claro que não era mais o caminho que eu deveria[1] seguir.

A ideia de aposentadoria adiantada sempre me pareceu interessante. Seja fazer um esquema de trabalhar menos horas na semana ou tirar meses de folga não remunerada, era um conceito que me deixava bastante animado. E vir para Amsterdam foi a culminação desse objetivo com a vontade de morar em outro país (por que Deus me livre ir para os EUA se for para trabalhar).

Plena quinta-feira, pude exercer bem meu plano de aposentadoria adiantada: eu e Gabi fomos para nosso quintal comunitário (também conhecido como praça do bairro) tomar uma cerveja no gramado e curtir a paisagem e a companhia um do outro. Sem muito medo de dormir tarde por que não tem reunião importante cedo.

É incrível o quanto você consegue viver quando seu cérebro passa a operar sem os processamentos que geram ansiedade. De poder focar no presente e viver ele ao máximo. Deu para olhar para o céu e perceber quão lindo ele estava[2] de um jeito um tanto diferente:

Eram 10 horas da noite. Mas por algum movito o sol insistia em brilhar. De um jeito mais tímido, mais indireto, mais de lado; a luz chega nos nossos olhos fazendo uma viagem um pouco diferente. Angulado de um jeito perfeito para ver a diferença de altura entre as nuvens. Essa noção de profundidade é perfeita para se sentir minúsculo no meio da magnitude do céu e do universo.

Mesmo na infinidade da existência, muito próximo a mim, colada nos meus braços, está a minha companhia predileta. De uma intimidade explendida e ao mesmo tempo tão cotidiana. Ela comenta como é impressionante que nosso cérebro decidiu, por algum motivo, inverter como a imagem chega nos nossos olhos. Quão confuso seria ver a terra"do jeito que ela é".

"Eu sempre vou lembrar da altura do céu quando a gente sentar aqui". Meu amor me diz enquanto olhamos para o céu.

Já em casa, no mesmo clima de leveza, colocamos um karaoke. Cantamos Tim Maia. Você me pergunta se você tem alzheimer. Rimos. Digo que acho que não. Dançamos. Abraçamos. Dormimos. E hoje, dia 7 de Julho de 2023, começamos de novo andando no nosso quintal e tomando café no nosso jardim até o horário da próxima reunião.

[0] - 7 melhores escolas de MBA do mundo, tipo Harvard, MIT, Columbia e outros, que por motivos de, alguém da minha familia fez, eu achei que eu deveria/conseguiria fazer também. E eu entendo o nicho e privilégio da coisa, mas enfim, continua comigo, juro que pode ser interessante.
[1] - deveria é uma palavra forte, mas acho que fala bem da noção de "acho que é a melhor de decisão com os dados que tenho no momento"
[2] - e que sempre está e sempre estará lindo ao lado da Benes


O cérebro e a realidade. Foto de Benes

Ainda Junho

A mudança começou na última semana de maio e perdura até agora. De lá pra cá fechamos dois apartamentos em São Paulo (o meu e o do Dani), ficamos em um airbnb, na casa de um amigo, na casa de outro amigo e em um hotel. Brasil, Holanda, Portugal e Holanda de novo. Ainda essa semana, estaremos em nossa própria casa em Amsterdam, finalmente. Mas daí já vai ser julho.

Já passamos tanto perrengue que acho que estou pagando todos os meus pecados da vida nesse único mês. Ainda assim, se esse for o pior quer dizer que nossa vida é muito boa. Perdi festa junina, pamonha, paçoca, bodim. Ganhei bacalhau, sandes de bifama, queijadinha, pastel de nata e nada verdadeiramente relevante da culinária holandesa. Talvez a torta de maçã e o broodje de canela (kaneelbroodjes) que é o meu vício atual. Tempo de pêssego por aqui, já comi vários.

Tempo de listas na Ikea e de pensar em decoração on a budget. Aliás buscando móveis de lojas de segunda mão, mas tudo é difícil de achar nessa cidade. Não quero reclamar muito, mas em Tóquio havia 2 lojas de conveniência praticamente dentro do meu prédio, aqui precisamos andar 20 minutos até encontrar um mercadinho que -pasmem- não aceita VISA e nem MASTERCARD. Pra quem como eu não sabia, essa cidade parece interior e tudo é caro. Será um ano de paciência, vida lenta, museus, muitas receitas e muitas leituras. Estou animada.

Alguns registros desse mês:

Foto 1: Amsterdam às 22h, ainda claro: jantar com vinho frisante e pés descalços
Foto 2: Uma escada qualquer no centro de Amsterdam
Foto 3: Tasca do Chico em Lisboa: petiscos, vinho e fado

Eu estou lendo no momento: "Talvez você deva conversar com alguém", de Lori Gottlieb. E estou achando ok, interessante entender alguns fundamentos de psicologia permeados no enredo que até agora é apenas aceitável -entenda como um "não maravilhoso";

Eu estou vendo no momento: Por aqui acabamos Ted Lasso (porque o Dani ama) e Succession (obra prima)*. Agora estamos assistindo Drops of God na Apple TV, mas tá difícil engatar.

Uma dica de filme que amei muito é "Minha vida de abobrinha" (MA VIE DE COURGETTE) <3 A animação stop motion francesa é sensível e adorável. Estou apaixonada!!! Está no MUBI.

* Comentários do programador: Quero deixar claro que eu que insisti para Benes assistir a obra prima e ela demorou demais para engatar. E, por mais que ela não admita, ela também ama Ted Lasso. <3