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"Adiantando a aposentadoria" - por Dani

Desde que me conheço por gente, o MBA em uma M7[0] é descrito para mim como uma "aposentadoria adiantada", "o gás que eu precisava para continuar me matando de trabalhar em consultoria", "um desperdício insano de dinheiro", ou "máquina de fazer dívida". Pra quem me conhece tem um tempo, sabe que eu cheguei a iniciar o processo de aplicar para essas escolas por ser um sonho antigo meu, mas ficou claro que não era mais o caminho que eu deveria[1] seguir.

A ideia de aposentadoria adiantada sempre me pareceu interessante. Seja fazer um esquema de trabalhar menos horas na semana ou tirar meses de folga não remunerada, era um conceito que me deixava bastante animado. E vir para Amsterdam foi a culminação desse objetivo com a vontade de morar em outro país (por que Deus me livre ir para os EUA se for para trabalhar).

Plena quinta-feira, pude exercer bem meu plano de aposentadoria adiantada: eu e Gabi fomos para nosso quintal comunitário (também conhecido como praça do bairro) tomar uma cerveja no gramado e curtir a paisagem e a companhia um do outro. Sem muito medo de dormir tarde por que não tem reunião importante cedo.

É incrível o quanto você consegue viver quando seu cérebro passa a operar sem os processamentos que geram ansiedade. De poder focar no presente e viver ele ao máximo. Deu para olhar para o céu e perceber quão lindo ele estava[2] de um jeito um tanto diferente:

Eram 10 horas da noite. Mas por algum movito o sol insistia em brilhar. De um jeito mais tímido, mais indireto, mais de lado; a luz chega nos nossos olhos fazendo uma viagem um pouco diferente. Angulado de um jeito perfeito para ver a diferença de altura entre as nuvens. Essa noção de profundidade é perfeita para se sentir minúsculo no meio da magnitude do céu e do universo.

Mesmo na infinidade da existência, muito próximo a mim, colada nos meus braços, está a minha companhia predileta. De uma intimidade explendida e ao mesmo tempo tão cotidiana. Ela comenta como é impressionante que nosso cérebro decidiu, por algum motivo, inverter como a imagem chega nos nossos olhos. Quão confuso seria ver a terra"do jeito que ela é".

"Eu sempre vou lembrar da altura do céu quando a gente sentar aqui". Meu amor me diz enquanto olhamos para o céu.

Já em casa, no mesmo clima de leveza, colocamos um karaoke. Cantamos Tim Maia. Você me pergunta se você tem alzheimer. Rimos. Digo que acho que não. Dançamos. Abraçamos. Dormimos. E hoje, dia 7 de Julho de 2023, começamos de novo andando no nosso quintal e tomando café no nosso jardim até o horário da próxima reunião.

[0] - 7 melhores escolas de MBA do mundo, tipo Harvard, MIT, Columbia e outros, que por motivos de, alguém da minha familia fez, eu achei que eu deveria/conseguiria fazer também. E eu entendo o nicho e privilégio da coisa, mas enfim, continua comigo, juro que pode ser interessante.
[1] - deveria é uma palavra forte, mas acho que fala bem da noção de "acho que é a melhor de decisão com os dados que tenho no momento"
[2] - e que sempre está e sempre estará lindo ao lado da Benes


O cérebro e a realidade. Foto de Benes

Três livros por Lud

Gabi me pediu há tempos (não funciono sem prazo, rs) a recomendação de três livros para este blog. A tarefa é mais difícil do que parece - sou mais uma vítima das dificuldades de manter viva a ávida leitora adolescente que já fui e tenho percebido a memória já não tão boa de uns tempos pra cá (Covid? Telas demais? Pós-30? Todas as anteriores?). De qualquer forma, aí estão:

Disclaimer: se o leitor espera por um quentinho no coração nessas recomendações, sinto muito. Essas indicações vão balançá-lo, sim, mas para o bem e para o mal (assim como a vida - tão bem reproduzida pela literatura - faz), necessariamente.

"Estela sem Deus", de Jeferson Tenório

Motivo da escolha: Gabi me apresentou Elena Ferrante, a autora da tetralogia napolitana, que protege sua identidade e é capaz de descrever a complexidade dos sentimentos e relações de e entre mulheres de forma fidedigna (e invejável).

Se, no caso dela, perdeu força a teoria de que poderia ser um homem por trás do pseudônimo, Tenório, em "Estela sem Deus", descreve em primeira pessoa uma adolescente e as passagens que marcam esse período com uma profundidade que poderia muito bem ser usada como exemplo dessa possibilidade.

Estela é uma menina negra, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que faz uma passagem nada doce, como não costuma ser, da infância para a adolescência. O processo já permeado por dúvidas, vergonha e violências é agravado pelas condições sociais de sua família. O período é marcado ainda pela mudança para o Rio de Janeiro junto do irmão.

A herança racista e misógina que reside na expectativa de seu silêncio, porém, esbarra no processo autodescobrimento: para além de ousar conhecer quem é, Estela quer ser filósofa. A relação com a mãe, tia, amiga... a falta de uma com Deus... a distância (física e/ou afetiva) do pai, do irmão, do namorado. Tudo isso entrelaçado com o difícil e solitário processo de aprender a ser quem se é (que nunca acaba) me fez guardar esse livro na minha diminuta estante de lembranças e dicas de leitura.


(O Tenório tem outros livros extremamente especiais, não pare nesse, se puder)
Capa por Alceu Chiesorin Nunes

"Eva", de Nara Vidal

Motivo da escolha: Qual o tamanho de uma mãe na vida de um filho? Qual o espaço que suas expectativas preenchem e por quanto tempo? E se for uma filha?

Se você ousou passar, em algum momento, por algum mergulho interno para pensar no impacto dessas questões em si mesmo já sabe que essas são águas intranquilas. Neste romance, Vidal nos joga no olho do maremoto. Eva é um relato de reinteradas e mal resolvidos conflitos desta e de outras relações (como reflexo?).

Se você já fez ou faz análise vai reconhecer a sensação: aquele desconforto de atingir um ponto de inflexão perto do fim da sessão e sair com aquele nó para ir desatando bem aos pouquinhos. Um incômodo que fica e por vezes é esquecido nas amenidades do dia a dia. Neste livro, porém, ele fica e ganha novas camadas a cada trecho. "Eva" é uma dor crônica com pontos de agudez muito bem escrita.

Capa: Cristina Gu | Flávia Bomfim

"Meio Sol Amarelo", de Chimamanda Ngozi Adichie

Motivo da escolha: "Meio Sol Amarelo" não é uma leitura recente, mas mesmo sendo avessa a cometer opiniões na internet, me fez escrever à época sobre ela.

Os outros dois livros que listei trazem condições, e relações, essencialmente humanas em todas as suas complexidades. Mas e quando o conflito é coletivo? Qual o impacto de uma guerra? Permitam-me repetir aqui minha percepção pós-leitura, feita em 2016:

"Americanah é maravilhoso. Hibisco Roxo conversa tanto com a realidade brasileira que assusta. Mas, para mim, é em Meio Sol Amarelo que Chimamanda mostra o que faz de melhor: é humanidade do início ao fim com tudo de incrível e de horroroso que isso pode significar.

O livro narra a Guerra Nigéria-Biafra (67-70) pelos olhos de Olanna, uma socióloga educada na Europa que volta a sua terra natal para construir sua vida e de Ugwu, empregado na casa onde Olanna vive com Odenigbo, um professor universitário idealista.

A força das imagens construídas, o arrastar da dor sem o desandar do texto, a fragilidade e a reconstrução das relações em meio ao caos, a fé. Em tempos de certezas absolutas, é na dúvida que reside a "dor e a delícia", a complexidade e fragilidade que andam de mãos dadas dentro de nós. Chimamanda é mais necessária que nunca "

Vez ou outra releio esse relato e tenho um pedacinho do sentimento que esse livro me deixou. Me apego demais às palavras pra me permitir chamá-lo de favorito (há tanto por ler), mas acho difícil que eu faça alguma lista como esta ousando deixá-lo de fora.

Com o perdão da reprodução da minha resenha de Facebook neste último encerro aqui minhas recomendações. Conta pra gente se ler algum?

Chimamanda além de tudo é estilosa demais.

Ainda Junho

A mudança começou na última semana de maio e perdura até agora. De lá pra cá fechamos dois apartamentos em São Paulo (o meu e o do Dani), ficamos em um airbnb, na casa de um amigo, na casa de outro amigo e em um hotel. Brasil, Holanda, Portugal e Holanda de novo. Ainda essa semana, estaremos em nossa própria casa em Amsterdam, finalmente. Mas daí já vai ser julho.

Já passamos tanto perrengue que acho que estou pagando todos os meus pecados da vida nesse único mês. Ainda assim, se esse for o pior quer dizer que nossa vida é muito boa. Perdi festa junina, pamonha, paçoca, bodim. Ganhei bacalhau, sandes de bifama, queijadinha, pastel de nata e nada verdadeiramente relevante da culinária holandesa. Talvez a torta de maçã e o broodje de canela (kaneelbroodjes) que é o meu vício atual. Tempo de pêssego por aqui, já comi vários.

Tempo de listas na Ikea e de pensar em decoração on a budget. Aliás buscando móveis de lojas de segunda mão, mas tudo é difícil de achar nessa cidade. Não quero reclamar muito, mas em Tóquio havia 2 lojas de conveniência praticamente dentro do meu prédio, aqui precisamos andar 20 minutos até encontrar um mercadinho que -pasmem- não aceita VISA e nem MASTERCARD. Pra quem como eu não sabia, essa cidade parece interior e tudo é caro. Será um ano de paciência, vida lenta, museus, muitas receitas e muitas leituras. Estou animada.

Alguns registros desse mês:

Foto 1: Amsterdam às 22h, ainda claro: jantar com vinho frisante e pés descalços
Foto 2: Uma escada qualquer no centro de Amsterdam
Foto 3: Tasca do Chico em Lisboa: petiscos, vinho e fado

Eu estou lendo no momento: "Talvez você deva conversar com alguém", de Lori Gottlieb. E estou achando ok, interessante entender alguns fundamentos de psicologia permeados no enredo que até agora é apenas aceitável -entenda como um "não maravilhoso";

Eu estou vendo no momento: Por aqui acabamos Ted Lasso (porque o Dani ama) e Succession (obra prima)*. Agora estamos assistindo Drops of God na Apple TV, mas tá difícil engatar.

Uma dica de filme que amei muito é "Minha vida de abobrinha" (MA VIE DE COURGETTE) <3 A animação stop motion francesa é sensível e adorável. Estou apaixonada!!! Está no MUBI.

* Comentários do programador: Quero deixar claro que eu que insisti para Benes assistir a obra prima e ela demorou demais para engatar. E, por mais que ela não admita, ela também ama Ted Lasso. <3

Grandes escritores, Temas profundos e Coisas bem-feitas

Dudu me mandou esse texto em uma terça feira a noite e antes de abrir já imaginei a grandeza, sentindo um "putz, lá vem coisa cabeçuda", no sentido desafiador mesmo.

Depois de ler pela primeira vez, suei. Pensei comigo: "tenho nem roupa pra subir isso no blog e misturar com meus textos bobinhos, amenidades e looks do dia". De qualquer forma, sugiro que esse texto não seja lido apenas uma vez. No meu caso, lerda que sou, foram repetidas vezes até que fosse bem digerido, o que também me deu fôlego e coragem para escrever uma introdução razoavelmente adequada para ele (será que ficou mesmo?).

A verdade é que Dudu não faz nada malfeito quiçá mediano. Tudo que põe no mundo é de completa distinção. Desde criança é assim. Hoje mestre em Tradução Literária pelo Trinity College, é o maior especialista em Tolkien desse Brasil (quem discorda tá errado) e dono do vocabulário mais refinado que conheço.

O tema que traz é também dos mais significativos, o sentido da vida e da morte, por Cecília Meireles, Quintana e Manuel Bandeira. Tema esse que tenho visitado recentemente também em outros conteúdos: no luto de Joan Didion (no livro "O Ano do Pensamento Mágico"), no cinema de Bergman (no filme "O Sétimo Selo" de 1957 -que inclusive acredito que Dudu irá gostar muito pois sueco) e que todos vivemos recentemente por conta da morte de Rita Lee, que pra tantos faz parte dos que tiveram um bom legado, como Dudu descreve no fim do texto. Da minha parte, só busco registrar por aqui o que estamos vivendo no momento.

Obrigada Dudu, por esse presente.


Que não fique o chão nem fique a sombra

Quando o poeta Manuel Bandeira morreu, em 1968, seu amigo e também poeta Mario Quintana escreveu uma pequena homenagem. Nela, diz sempre ter considerado "uma bênção do Destino ter sido contemporâneo e merecido a amizade de Manuel Bandeira. E, também, de Cecília Meireles, a quem nós dois queríamos tanto. Leva a ela o meu beijo, Manuel!"

Cecília Meireles já havia partido quase quatro anos antes, e Quintana ainda viveria umas três décadas. Que trio! Grandes nomes da nossa literatura encapsulados nesse singelo texto que, no fim das contas, fala sobre a Morte e sobre o que fizemos antes dela.

Os três dedicaram muitos poemas a esse assunto e, aqui e ali, podemos fisgar versinhos interessantes sobre a nossa passagem por esse chão. Cecília Meireles (mais propriamente o seu "eu-lírico") às vezes expressava uma visão que uns chamariam de "niilista". No finzinho de Paisagem Mexicana, por exemplo, uma mulher sozinha, chorando, olhava para os céus:


Talvez perguntasse aos santos:
"Por que se morre?" e sentisse
que do céu lhe perguntavam
também: "Para que se vive?"

Ora, que pergunta! Em outro poema, sem título, a poeta reforça essa ausência de propósito e se põe a conjecturar em galopantes redondilhas:

Se não houvesse saudade,
solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
além de breve, perdida!

E, por fim, num belo poema de 1954, chamado Humildade, Cecília Meireles parece descrever a nossa própria vida, sete décadas depois, e termina com o mesmo sentimento de dúvida sobre nosso objetivo:

Tanto que fazer!
livros que não se leem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê.

De que nos serve essa raridade chamada vida, cujo desfecho é conhecido, mas cujo propósito é obscuro? Manuel Bandeira têm uma visão mais otimista, ou pelo menos é o que expressa em Consoada:

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Não sei qual foi o propósito na vida desse morituro, mas está cumprido; esse sujeito, na hora de acertar as contas com a Indesejada, estará quite com a vida.

Nas últimas estrofes do soneto Esses inquietos ventos, de Mario Quintana, escrito em 1935, mas publicado só em 1989, podemos ver o sujeito fazendo eco à ideia de que talvez não tenhamos tido um propósito na vida:

Os ventos vêm e batem-me à janela:
"A tua vida, que fizeste dela?"
E chega a morte: "Anda! Vem dormir..."

Faz tanto frio... e é tão macia a cama:
Mas toda a longa noite inda hei de ouvir
A inquieta voz do vento que me chama!

Mas não foi nem de longe a única maneira com que ele lidou com a Morte em seus poemas. Chegava até mesmo a tratá-la como velha conhecida. No seu primeiro livro, A Rua dos Cataventos (1940), os sonetos falam do tema em várias ocasiões. No de número XIX, chama a Morte de "minha doce Prometida" e diz

Minha morte nasceu quando eu nasci.
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi.

Significativamente, ela volta no último poema do livro, em que o sujeito reflete sobre aquilo que quer levar da vida: madrugadas, pôr de sóis, algum luar, asas em bando e o rir das primeiras namoradas. E termina da maneira mais esperançosa possível:

E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...

Cecilia Meireles, Mario Quintana e Manuel Bandeira são nomes que ficaram para a posteridade. Temos visto ultimamente passar para o lado de lá uma gente que também deixou um legado, um bom legado. Quem sabe a você também esteja destinado um legado na literatura, na música, na ciência, na política. Ou talvez você prefira que se lembrem com carinho apenas das suas pequenas façanhas, dos heroísmos cotidianos — aprender línguas, dar amor, escrever cartas et cetera — até que, em algum desconhecido dia, alguém dirá seu nome pela ultimíssima vez:

E que eu desapareça, mas fique este chão varrido onde pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra

(Esse é o remate de outro poema, Eterno, do eterno Drummond, também amigo dos três outros).

Não sei para que se vive e nem em nome do que você vive, mas, no embalo e no embaraço do dia a dia, desejo muito que aproveite para urdir fios de vida no manto da morte, de modo que, quando a Indesejada chegar mesmo (daqui a muito, muito tempo, é claro), você — tranquila e seguramente — possa dizer "o meu dia foi bom, pode a noite descer".

Comendo em Tóquio

Como a maioria deve saber, e com toda a minha modéstia reforço que em Tóquio eu sou uma local e que esse é um dos meus maiores motivos de orgulho. Morei na cidade por 3 anos, de 2018 a 2021, flanei muito pelos bairros mais legais e considero o Japão a minha segunda casa. Lá tenho uma boa parte de meus amigos e a cultura que moldou um pouco do que sou hoje (estranha :P).

Mês passado fui pra lá de férias, junto com meu namorado que visitava o país -e a Ásia- pela primeira vez. Exciting! E foi mesmo, incrível rever pessoas e lugares tão especiais que tenho dentro do meu coração além de poder apresentá-los para Dani.

Depois de desfazer as malas, estendo aqui algumas dicas pra quem planeja visitar Tóquio em breve (Isa <3) ou deixo como arquivo para aqueles que planejam a viagem em um futuro mais longínquo. Pensei em começar com dicas sobre o que não deixar de comer na cidade, e separei para esse post os top 3 do meu ranking "não pode deixar de provar" e descrevo melhor o porquê abaixo.


1 - ICHIRAN Ramen

Melhor tonkotsu ramen -aliás melhor ramen- do universo. Existem várias unidades espalhadas por Tóquio e a fila anda mais rápido do que você imagina: vale a pena esperar! Você consegue customizar a quantidade de alho, cebolinha, pimenta e escolher o quão espesso quer seu caldo (existe formulário em inglês também, fiquem tranquilos). Fun fact: você pode, e recomendo comer em cabines como a da foto abaixo, pra ter uma experiência intensa, só você e seu ramen, sem ninguém pra atrapalhar.


2 - Nihonkai Meguro

Meguro é o meu bairro querido, onde ficava a minha casinha. Nihonkai é uma rede de restaurantes de sushi espalhados por Tóquio sendo que a qualidade varia de acordo com cada unidade. A de Meguro, fica em frente ao prédio onde morava, e tem qualidade garantida por **moi**, frequentadora assídua. Os peixes e frutos do mar são bastante frescos e variados, o ambiente descontraído, e um excelente custo-benefício principalmente para o lunch set durante os dias de semana, quando você come muito bem por uma valor em torno de 1,500-2,000 yen por pessoa.

Nota: recomendo muito o ikurá deles (sushi de ovas de salmão como o da foto abaixo). Aqui no Brasil, é muito difícil de achar -desse tamanho, com esse frescor nunca vi- e se você acha, provavelmente deve custar o olho da cara. Nihonkai eu te amo!!!


3 - TRUFFLE Bakeryo

Pra um café da manhã ou snack, recomendo a padaria com a temática de trufa que possui algumas unidades espalhadas por Tóquio. Sei que existe uma em Hiroo e também uma na estação JR de Shimbashi (a da embalagem da foto). Nessa padaria existem os folhados comuns tipo croissant, pain au chocolat, muffins, etc. que NÃO são trufados. Os itens com trufas negras e azeite trufado estão normalmente perto do caixa e eu, particularmente, recomendo muito esse pãozinho aqui da foto abaixo: olhando você pode não dar nada, mas uma vez que põe na boca o bendito entrega TUDO. Perfeito! (tão bom que é limitado, máximo de 6 unidades por cliente)


BONUS:

• Na combini (lojas mil de conveniência espalhadas pelo Japão) não deixe de comer muitos oniguiris, são deliciosos e tem o design mais perfeito de embalagem que mantem a alga crocante;
• Recomendo também Pocky para as viagens de trem bala (é divertido de compartilhar);
• O Tonki Meguroé o melhor tonkatsu que já provei, vale a visita;
• Pra quem busca omakase de sushi, uma boa opção é o Rinda Sushi também em Meguro. Tem que reservar e custa por volta de 15,000 yen por pessoa (pelo menos na última vez que fui em 2020);
• Eu amo muito soba, e um dos melhores em Tóquio é o Tokiwa em Mita (na frente da Embaixada Italiana). Eles tem um lunch setto bem lindo e acessível (custava 1,200 yen em 2020). Recomendo muito;
• Muito udon bom no Japão, além dos restaurantes mais caseiros (com certeza vocês acharão vários em Quioto), recomento a rede Hanamaru Udon -logo da florzinha laranja- em Tóquio para um lanche rápido, barato e delicioso;
• Se quiser um jantar especial e caro, recomendo o Kikunoi Akasaka (por volta de 30,000yen), mas muito chique e único. Tem que fazer reserva;
• Pizza muito boa você encontrar no Seirinkan em Nakameguro; e no Savoy em Azabujuban. Ambos os bairros muito queridos e trendy de Tóquio;
• Curry indiano no Japão é bom demais!! Qualquer restaurante indiano com uma foto de naan bread serve. Recomendo a experiência. O Moti em Roppongi é uma sugestão.

Isso não é comercial de dia das mães

Camila é uma das minhas poucas amigas que já é mãe. Há uns anos, quando ela ainda morava na Nova Zelândia, escreveu contando "estou grávida", inesperadamente.

A Cá já apareceu na newsletter e já apareceu aqui no blog como "Comentarista". Agora faz participação com um texto sensível e sincero, assim como é ela, cheia de dúvidas e de magia. Obrigada pelo texto, Cá <3

A foto é de Lisa Sorgini, fotógrafa australiana que retrata as experiências do cuidado e das relações maternas, buscando investigar percepções e construções sociais em torno do conceito de família e principalmente do papel de mãe.

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Gastei um tempo tentando encontrar um tema para escrever aqui.

Como falar sobre maternidade para um público majoritariamente sem filhos - eu imagino - sem ser piegas, cansativa e desinteressante?

Eu poderia dizer como é um parto natural sem anestesia de maneira bem crua - cheia de mágica e desagradáveis exames de toque, mas isso poderia assustar algumas pessoas. Talvez falar como as mães estão cansadas e sobrecarregas, mas seria chover no molhado. E falar sobre o amor das mães pelos filhos seria irresponsabilidade, laços biológicos não garantem afeto.

Então vamos falar sobre as propagandas de Dia das Mães, o que realmente acham delas?
Não quero ser grosseira, uma mãe é todo esse papo furado dos comerciais da Boticário, somos realmente capazes de mover um mundo inteiro, mas acho - particularmente - um desserviço.

Essa imagem de perfeição e força é opressora e só aumenta a fatia de culpa que sentimos mediante qualquer pequena fissura na expectativa que temos sobre nosso próprio maternar.

"O exemplo vem de berço", "seus filhos vão aprender pelo exemplo".
E o exemplo que precisamos ser é esse dos comerciais de Dia das Mães?
Bom, aqui tem uma verdade: qualquer mãe pode ser uma cuzona e nós somos mesmo.

Não podemos ser um exemplo de pessoa normal, que ama, que erra e que faz o melhor que pode no meio do caos que é viver? Será que esse estereótipo de mãe divina não nos afasta de nossos filhos quando eles passam a ter qualquer entendimento sobre a vida? Como estar à altura de uma mãe ou pior da sua mãe
Quanta carga emocional gratuita de todos os lados.

Então aqui vai dose real de uma mãe real, eu:

Eu sou a mãe que deixou a filha cair da cama aos sete meses.
Que já gritou com ela.
Que já mandou ela parar de chorar.
Que já disse que iria embora e deixar ela lá.
Que puxou ela pelo braço forçando-a a pôr a roupa.
Eu sou a mãe que em determinados dias só quer mandar a criança para a casa dos avós.
A mãe que quase sempre não sabe o que fazer, não sabe o que dizer e não sabe como resolver crises.
E que não aguenta mais ler ou assistir histórias infantis.
Eu sou a mãe que tem vontade de desistir e tomar atalhos só para tornar minha vida mais fácil.

E veja você, também sou a mãe que pediu desculpas todas as vezes que gritou.
Que se escondeu atrás da porta em um dia difícil para chorar e respirar, só para não gritar mais.
Sou aquela que se penalizou de arrependimento por puxá-la pelo braço.
Sou a mãe que tem culpa o tempo todo porque não sou a mãe perfeita, porque não existe receita para como criar um filho, mas que inventa milhares de maneiras de ter tempo de qualidade com a filha.
E sou a mãe que passa noites em claro fazendo inalação, que planeja e executa todos os pequenos detalhes da vida da filha, que planeja aniversários, que pensa nela antes de tomar qualquer decisão e que presa pela segurança, saúde e bem-estar dela.
Sou a mãe que acolhe, que cria e que ama incondicionalmente.

Mas prefiro ser lembrada pela parte ruim.
Porque no fim o que merecemos não é parabéns por sermos perfeitas.
E sim parabéns por não desistirmos.