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O que "A viagem de Chihiro" significa pra você?

Há algumas semanas eu e Dani assistimos o novo filme de Miyazaki “The boy and the heron” no cinema aqui na Holanda. O filme pode dar um post a parte no futuro, com alguns elementos que o fazem delicioso de acompanhar, como a trilha sonora, os sons (asmr), a delicadeza e nuance dos personagens -um ótimo reflexo da cultura japonesa-, as metáforas e as camadas de interpretação e reflexão geradas pela história.

Gostaria de decorrer mais sobre o filme novo mas seria prematuro. Então tive a ideia de explorar diferentes interpretações de “A viagem de Chihiro” por ser mais antigo -portanto mais assimilado-, e um dos mais famosos do Studio Ghibli. Para quem não é japonês, o filme pode parecer bastante subjetivo, uma grande abstração, e por isso fui atrás de respostas de diferentes amigos para as duas perguntas abaixo:

“O que mais te impactou no filme?”;
e “Como você interpreta a história? /qual a mensagem que o filme te passa?”

Para Carol (@carolboscarin):
Eu assisti a primeira vez quando lançou em 2001 e, mesmo tendo contato com animações japonesas antes, foi um deslumbramento enorme pra mim ver tanta magia e música e cores e beleza. Agora de adulta e depois de ter visto o filme tantas vezes, sigo com a mesma opinião mas sei que o que me impacta nele é o grau de liberdade: liberdade pra ir pra outro mundo, pra curtir a beleza desse mundo, pra usar formatos de história diferentes do usual, pra voar com dragões e ser amiga de espíritos. Eu adoro esse sentimento, esse filme me faz feliz!
Sinto que minha interpretação muda cada vez que assisto e agora, recém-voltada da minha primeira viagem pro Japão, eu entendo ainda mais como uma história de amadurecimento. Chihiro (bem como eu) é uma criança tentando ir pro mundo da imaginação pra escapar de uma realidade e num país tão cheio de paisagens lindíssimas e templos como o Japão, criar um mundo mágico é fácil. Mesmo nesse refúgio, o peso da realidade e da cultura sempre acaba sendo cobrado: ela tem que trabalhar, enfrentar problemas e consertar coisas sozinha (assim como uma adulta hehe) e nessa jornada ela percebe que mudar de endereço não é tão ruim, ela vai fazer novos amigos e ela vai superar o que vier então ela está pronta para “voltar para o mundo real”. Pra mim a mensagem é essa: o mundo mágico é legal, e a realidade é ainda mais.

Para Dani (@chomsky_e_jorginho):
Acho que tem uma cena que responde as duas perguntas: a cena que a Chihiro dá um banho num dos clientes do onsen, acho que é o espírito do rio.
Para mim o filme é a história da perda da inocência. Sair de criança para adulto. Ter que trabalhar, ser responsável por cuidar da natureza e de si mesmo. Viver em comunhão como membro produtivo e ativo e não apenas como criança. A cena dela limpando aquele espírito imundo é meio isso. Difícil, mas ela sai do outro lado.

Para Thiago (@thiagooaranha):
Durante muitos anos joguei RPG e o que mais me impressionava nesse jogo era a diversidade de personagens.
O jogo se passava num mundo de magia, deuses, dragões e seres mitológicos, assim como o filme que igualmente traz inúmeros personagens com características diferentes.
Além disso o filme envolve muita mitologia e cultura japonesa que são temas que sempre gostei.
Interpreto o filme como uma história de superação onde uma frágil e ingênua criança enfrenta obstáculos e muitos desafios com muita coragem e determinação para libertar seus pais.
Chihiro era uma criança retraída, tímida e precisou desenvolver características que até então não se via em sua personalidade, como coragem, enfrentamento pra poder salvar os pais das magias que os atingiram.

Para Fanny (@f_a_m_photography):
There are two aspects that touched me a lot. The first one is the visual aspect. As most of the Ghibli animes directed by Miyazaki, this animated movie bursts with vibrant colors. There are thousands of intricate details within the Japanese sento that one can discover with each viewing. With its stunning landscapes and fluid animation, the movie provides a deeply immersive experience into Japanese culture and nature.
The second aspect that resonates with me is the growth of the main character, a girl who literally matures throughout her journey in the imaginary world. Typically, in most Western movies, heroes are portrayed as men or boys brimming with courage, overcoming obstacles through their strength and determination.
However, in Spirited Away, the protagonist, Chihiro, initially depicted as a timid young girl reliant on her parents, evolves through her journey. She emerges as a stronger and more confident individual, ready to transition from childhood into adolescence. It's refreshing to see film directors challenging stereotypes by portraying girls and women as new kinds of heroes.
Regarding interpretation, there are many messages in this movie... For me, the main messages are that:
* Overconsumption, greed, and capitalism are the scourges of modern times.They transform people into ugly and dirty creatures physically (parents turn into pigs, and loose sight on their daugther and the beauty of the real world) and spiritually (most characters want to receive gold from the black spirit with white mask).
* Humans need to take care of the planet and think about their impact on the nature. One spirit has turned extremely dirty and characters can barely approach it because it has swallowed an incredible amount of trashes created by humans.
* Empathy and going over the first impression and appearance are needed to survive in this world. As an example, the black spirit with white mask could appear to be scary at some point of the story but in fact craves for friendship and look for escaping his loneliness by offering gold. Chihiro was able to notice the distress in this apperently mean yet sad character.
* The bathhouse can be interpreted as a metaphor for the relentless and sometimes dehumanizing nature of work, particularly in the context of adult responsibilities and societal expectations.Beauty exists outside the bathhouse,and adults should step back from their work life and take time to admire the beauty of our planet and take care of our loved ones. While the big baby seems well taken care of by Yubaba, he is in fact a prisoner in the bathhouse, he is overly fat, which actually tells us that future is not brighter for next generation.
In a nutshell, humanity needs to re-think what is important to achieve a brighter future.

E você, já assistiu “A Viagem de Chihiro”? Se sim, como interpreta e o que mais te marcou?
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"Nós & Eles" de Bahiyyih Nakhjavani, por Lara Terzian

Lara é internacionalista -ambas fizemos Unesp Franca-, leitora ávida e organizada, e uma pessoa que eu quero conhecer melhor e convidar para um café! Escreveu, muito generosamente para o blog, essa resenha de um livro que a atravessou, e que certamente interessará alguns de nossos leitores. Muitíssimo obrigada por compartilhar , Lara!

O que nos une como pátria? E o que nos une fora da nossa própria pátria? Qual a comunhão entre "Nós e Eles", e qual é a entre nós mesmos?

O livro iraniano da escritora Bahiyyih Nakhjavani, nos conta através da história da família de Bibijan um retrato da diáspora do Irã, marcada pela revolução islâmica de 1979. Bibijan, a anciã da família, deixa enfim o Irã para encontrar uma de suas filhas nos Estados Unidos, enquanto sua outra filha, uma artista instalada em Paris tenta fazer as pazes com a mãe, com a pátria deixada para trás e com seu próprio passado. A saída é feita após muitos anos e com o coração pesado com a esperança desbotada de encontrar o filho mais novo - que sumiu em combate nas montanhas curdas.

O livro alterna entre a narrativa da família e de capítulos narrados por outros iranianos, que também saíram do país para se instalaram em diversas partes do mundo. Alguns personagens se interligam à história principal, mas acima disso, o "ser" persa é o fio condutor do livro. Como pertencer em outra cultura tão distinta e por vezes tão hostil ao diferente?

A autora utiliza da polifonia de vozes, e de vidas, para chegar ao denominador comum "Nós". Diversos, procurando existir, pertencer, mas dividindo a herança da pátria.

"Eles nos respeitam, e nós a eles, porque a morte é o nosso fim comum e a dor nosso direito humano universal."

Pequena ponderação sobre a Árvore de Natal

Dudu escreveu esse texto para o período natalino, mas a vida atropelou e só consegui postar agora. Culpa minha. Entretanto, a postagem encaixou no 7 de janeiro desse ano, o domingo depois da Epifania, que é a data recomendada pelo Vaticano para desmontar a árvore de Natal. Olha só como estamos religiosos. Boa leitura!


No adorável texto "Como aprendi o português", o latinista e tradutor húngaro Paulo Rónai — que por causa da Guerra radicou-se no Brasil — explica que, enquanto aprendia nosso idioma, as palavras que o atrapalhavam mais eram as corriqueiras: "uma das palavras brasileiras mais difíceis de traduzir e encaixar num verso húngaro era dezembro. O [húngaro] december, etimologicamente idêntico, mas que evocava noções de gelo, neve e miséria, não poderia sugerir a nenhum leitor húngaro a imagem de um Natal carioca, tórrido e abafado".

De fato, o nosso Natal é climaticamente oposto ao europeu e, no entanto, os nossos símbolos festivos permanecem mormente europeus. Nos últimos dias, chamou-me a atenção uma campanha natalina promovida por uma empresa de sabonete que buscava abrasileirar uma tradição: em vez de um pinheiro, colocaram uma árvore que suponho ser típica daqui, e repleta de cajus, flores e vitórias-régias boiando n'água.

Sem dúvida, a intenção foi a melhor possível, mas, apesar do esforço, é impossível nativizar completamente o símbolo: não importa que espécie de árvore se use, a própria concepção e ideia de uma Árvore de Natal, com sua decoração vistosa e uma estrela encarapitada, segue sendo um símbolo tipicamente europeu, cuja invenção se atribui ao monge beneditino São Bonifácio. Também desconfio que, insensíveis aos apelos da empresa de sabonete, a maior parte dos lares católicos brasileiros continuará a montar uma árvore de aspecto bem europeu, em forma de pinheiro, mas de plástico, talvez salpicada com algodão para lembrar a neve que não temos, com fios de luzinhas piscando assíncronas e bolinhas de Natal. Evidentemente, a Árvore de Natal é só um inofensivo legado europeu: não é, por exemplo, tão importante quanto a prensa de tipos móveis, e nem de longe tão perniciosa quanto os mais infandos reflexos do colonialismo.

Lembro-me que, ao falar sobre estrangeirismos no idioma, um antigo professor de linguística disse que quando a palavra estrangeira coloca a fitinha do Senhor do Bonfim e um par de Havaianas, ela passa a ser brasileira: o mesmo acontece com a Árvore de Natal. Ela é inegavelmente europeia, mas só o fato de estar enfiada no canto de uma sala enquanto os convivas da ceia bebem cerveja e refrigerante gelados e não um wassail fervendo mostra que a Árvore de Natal já amarrou sua fitinha, está bem à vontade de Havaianas e não precisa ser repaginada, por ora.

Talvez você goste da ideia de uma árvore mais brasileira no nosso tórrido Natal. Ou, se você for como eu, é possível que não ligue muito para isso e não tenha nem sequer uma árvore de Natal montada, quer brasileira, quer europeia. Quanto à empresa, a campanha pode até encher os olhos, mas tenho quase certeza de que ninguém de lá está muito aí para isso: para eles, pouco importa que árvore você tem na sua sala, desde que compre muito sabonete no Natal.

Iceland with Isella

Isella is a dear friend from Singapore whom I met in Japan back in 2019. She visited us (me, Dani, Chomsky and Jorginho) last month here in Amsterdam after her trip to Iceland, and it was wonderful to reunite, catch up on each other's lives and spend time together. Hearing the travel stories and seeing her stunning pictures inspired me to turn her experiences into a blog post and share them with you. So of course, I interviewed her!

Deve Ser Aqui: Why did you choose this destination?
Isella: I wanted to go somewhere cold and to be as close to nature as possible. I think it is in a bucketlist of destinations for almost everybody, and since I am 30 I wanted to go on a bigger solo trip, by myself.

Deve Ser Aqui: What was the most memorable moment in your trip?
Isella: I think what I didn't expect was to meet nice people. I was alone but went on a tour with other people and ended up making 18 friends, it felt like we were taking care of each other. The group was very diverse, and we got to share amazing moments. For instance, there was a cute elder couple in their 80s and they enjoyed even more than the youngers, they were very adventurous.
Because the group became very close, we were having dinner together every night, playing games and going to chase aurora.There was a muslim girl that lives in NY and was very anxious to receive the results of bar exam. At some point of the travel, she got the notice that she was approved and we were all celebrating together.
So, scenery is one special thing but people are a huge part of this trip. Nature made me feel very small, the waterfalls, the whales. Normally in Singapore I feel very anxious, chest tightness. But during the trip I was just relaxed.
In my daily life I use the smartphone a lot, but this time, in the spare time I was just staring at the window, the landscape is amazing.
But answering the question, the most memorable moment for me was the hot bath, when the whole group got closer. We are all together going to the freezing lakes and then to the hot bath. Super fun!
The second most memorable moment was seeing the whales. It was amazing to me!

Deve Ser Aqui: What is your main tip/recommendation for those who are planning to travel to Iceland?
Isella: Waterproof pants, windbreaker, neckwarmer and hiking boots. The weather is so erratic it changes so quickly, from sunny to windy, and sometimes it is really scary, hurts in the face (feels like microneedling).
Apart from that, join all the activities that the tour has to offer!
Bring instant noodles and buy alcohol from the airport duty free. Every meal is so expensive there!!!

Deve Ser Aqui: If you could go back in time, would you do something different. If so, what?
Isella: No, nothing to regret.

Extra tips

Name of the tour agency:
• Troll Expedition
8 day tour
• ps. Please add on all additional activities (all worth it :))

Recommendations of restaurants and live bar:
Old Iceland - really yummy food, small and quaint restaurant
Sjávargrillið - nice fine dining place for a treat. Price's reasonable & food's good
Hús máls og menningar - daily live music bar. SO FUN to just sing-along

Sky Lagoon OR Blue Lagoon (thermally-heated pools)
Both equally pricey
Blue Lagoon - Kinda overrated; with loads of people & water is not that warm. But still feels like the default touristy place to not miss.
Sky Lagoon - Pretty at sunset, with full spa experience. But it's a place more for couples.

O Japão pelos olhos de Fanny

Fanny fotografa para não esquecer, e busca explicar seus sentimentos através da fotografia. Guarda suas fotos como memória para ela mesma, ao mesmo tempo que as utiliza para comunicar e expressar seus sentimentos.

Fanny é francesa e mora no Japão há mais de 10 anos. É PhD em matemática pura (!!!! sim !!!), tem um MBA (o mesmo que o meu), uma mochila amarela e é uma das minhas melhores amigas. Amo-a muito. Abaixo selecionei algumas das minhas fotografias preferidas que estão lá no Instagram dela.

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Fanny photographs not to forget and seeks to explain her feelings through photography. She keeps her photos as memories, while also using them to communicate and express her emotions.

She is French and has been living in Japan for over 10 years. She holds a PhD in pure mathematics (!!!!), holds an MBA (same as mine), have a big yellow backpack, and is one of my best friends. I love her dearly. Below, there is a small selection of my favorite photographs which were taken by her and posted in her Instagram account.

Amarashi coastline (series 3/9), 2015
Amarashi coastline (series 8/9), 2015
"Blue", Enoshima, 2021

Essa eu imprimi, bem grande, e coloquei na parede do meu antigo quarto em São Paulo. Sinto falta de vê-la todos os dias. Me passa serenidade e companheirismo.

Frankfurt, 10-12 de Novembro

Fomos para Frankfurt passar o fim de semana, um amigo foi também. O roteiro foi todo de última hora e começamos com a visita a Casa Goethe. Confesso que a falta de informações sobre a vida do escritor que morou ali me frustrou um pouco. Comemos Schnitzel e tivemos muita dó do vitelo, comemos salada de batata e um chucrute bem azedo, amo fermentados. A cerveja alemã tem uma espuma cremosa, é especial. Conversamos muito, sobre a vida, sobre o chatgpt4, sobre Angela Merkel, e descobri novos sonhos. A noite assistimos uma ópera (Martha, de Friedrich Von Flotow) com enredo e narrativa duvidosos, mas com uma execução boa. No final, duas rodadas de aplausos com dois lances de agradecimento coreografado dos atores (elenco grande) que deu um bug no nosso cérebro que pensou vivenciar um looping eterno.

Jantamos no Five Guys e seguimos conversando muito: trabalho, filhos -ter ou não ter-, nomes, presentes de aniversário, relacionamentos e futuro.

No dia seguinte fomos ao Stadel Museum, e vimos algumas obras magníficas dentro de um acervo diverso. Destaque para um Renoir ("Reading girl", lindíssimo); Henri Edmond Cross em "Afternoon in the Garden", 1905 ; e o sublime em "Storm at Sea off the Norwegian Cost" de Andreas Achenbach, 1837 (foto abaixo).

De volta à estação, tentamos adiantar o horário de nossos bilhetes de trem, infelizmente sem sucesso. Foram 5 horas de lounge e muitos pretzels, que me permitiram terminar 2 aulas de História da Arte que estavam atrasadas. Dois cappuccinos enquanto Dani roncava alto. Voltamos para Amsterdã.

O sublime em tela giga 179.0 x 272.0 cm, de Andreas Achenbach, 1837

Eu estou lendo no momento: Acabei de ler a biografia da Lina Bo Bardi que ganhei da Lud, e começando "Dias de abandono" de Elena Ferrante.

Eu estou vendo no momento: The Morning Show, e recomendo muito. E também a última temporada de Sex Education.

Uma dica de documentário: "Os catadores e eu" de Agnes Varda, que tá na lista de influências e inspirações de Greta. Belíssimo. Tenho o link do MUBI com acesso ao documentário caso você queira ver, manda uma mensagem que posso te presentear.